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registro: 14/02/2009
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As Mudanças de Esperança

As Mudanças de Esperança
Renato Dias Martino

Na lata de alumínio, debaixo da pia era onde se guardava o feijão. Ali morava Esperança. Ela não tinha nada
de especial. Era igualzinha às outras. Mesmo tamanho, mesma espessura, mesma cor e muito provavelmente o
mesmo sabor. Era uma sementinha de feijão comum, como todas as outras dentro daquele saco de cinco quilos.
Todas juntinhas dentro da lata de alumínio debaixo da pia. Sentia-se muito segura por isso. Todos os dias de
manhã, ela acordava e nem por um minuto mantinha qualquer duvida quanto a ser aceita pelas outras. Este
sentimento brotava do fato de que era só olhar do lado e constatar como era idêntica a todas. Todas as
sementinhas estavam seguras ali. 

Certo dia, Esperança e mais algumas amigas idênticas a ela, caíram fora da lata. Por descuido da cozinheira
no momento de pegar os grãos para seu cozido. Foram então varridas e jogadas no terreiro. Todas, exceto
Esperança, caíram sobre uma superfície de cimento. Ela, por sua vez, caíra na terra fofa e bem adubada pelo
esterco das galinhas do quintal. 

Assim que caíram lá no fundo do terreiro, começou a chover. Um chuvisqueiro fresquinho e manso. 

Você já deve ter imaginado o que aconteceu, não é? Diferente do que para suas amiguinhas, toda a condição
propicia para acontecer a germinação calhara a ela. Então, Esperança começou a germinar. Foi estufando,
estufando até rachar uma das laterais. 
As companheiras que assistiam tudo de cima da peça de cimento,
assustaram-se. E disseram quase que numa só voz: Nossa! Por que faz assim? Você esta horrível! Se continuar
vais se arrebentar. 

E ela realmente se arrebentou. Foi inchando, inchando até que explodiu. Ficou disforme e certamente diferente
das colegas que não tiravam os olhos dela. Esperança de sentiu horrivelmente excluída. Lembrou-se então da
vida que vivia na lata e como se sentia feliz num grupo de total identificação. Mas, mesmo assim, Esperança,
continuou ali. Talvez por intuir que seria sua chance para crescer. 

De qualquer forma, todo esse processo foi acontecendo assistido por suas companheiras. Elas, expostas ao sol
e sem proteção, ou chance de germinarem, pois não estavam em contato com a terra fofa, foram definhando e
por fim apodreceram. Esperança por sua vez foi brotando, crescendo e logo se tornou um belo pé de feijão que
gerou várias vagens cheias de outras sementinhas. 

Na verdade todas as vezes que nos propomos crescer e expandir nossas capacidades, acabamos por assustar o
outro, que na maioria das vezes não estará disposto, pelo menos naquele momento à mudança. Somos então
julgados e inevitavelmente excluídos daquele grupo que não estava preparado para a transformação.